quinta-feira, 14 de abril de 2016

Apê n° 2. 4° andar.


Ela sempre foi bagunçada, e quando se diz bagunçada é muito bagunçada, suas ideias não funcionavam na organização, precisava espalhar mil papéis na escrivaninha, deixar jogados os seus sapatos pela casa, espalhar os livros de medicina no chão do quarto, e os produtos de beleza no banheiro, deixar o travesseiro e o cobertor no sofá da sala. Quem visse sua casa pela primeira vez lhe chamaria de desorganizada, mas ao olhar por outras lentes chegava a ser bonita sua bagunça, tinha um certo charme, uma autenticidade, uma coisa que poucos lares tinha, porque simplesmente ela tinha o poder de dominar todos os espaços, todos os cômodos e deixar sua marca por lá. Sua casa era alegre, era única, olhando para os cômodos vazios, simplesmente era possível imaginar quem aquela mulher era e mais que isso podia-se ter uma breve ideia da sua personalidade, dos seus gostos, dos seus receios. 
Ela beirava os 30 anos, madrugava no hospital fazendo plantões, solteira convicta chamava as amigas para beber no final de semana, dançava até o chão nas baladas, fechava os bares que frequentava, contagiava o mundo com seus sorrisos e seu olhar carismático. As vezes se irritava com as amigas, afinal agora quase todas estavam casadas e não conseguiam parar de falar de bebês, roupinhas tamanho baby, fraldas descartáveis e amamentação. Não estava nessa vibe, nunca esteve e acreditava que nunca estaria, se contentava em ser madrinha dos vários bebes que suas colegas tinham e não via a hora deles pararem de chorar e crescerem logo para ela poder ensiná-los a fazer arte. 
Era viciada em cigarros e mate, colecionava cinceiros de diferentes países que ficavam espalhados pelos cantos mais inusitados da casa, falando de países, ela era uma mulher viajada, gostava de acampar, colocar a mochila nas costas, de ir para o meio das montanhas e fazer um mate amargo e bem quente para tomar durante todo o dia. Cortou os cabelos tipo joãozinho e agora não os penteavam mais antes de sair de casa. Usava lentes de contato, seus 12 graus de miopia não era para qualquer um, tirava as lentes sem saber onde estava seus óculos e sempre era obrigada colocar as lentes de novo para encontrá-los. Vivia sozinha num apartamento de 3 quartos e seu passatempo preferido era dormir cada dia em um quarto da casa. Deixava seus jalecos brancos pendurados nos batentes das portas dos quartos, tinha várias réguas de tomadas espalhadas pelos cômodos, porém só tinha uma panela dentro do armário da cozinha e sempre deixava comida estragar na geladeira. Pessoas comuns achariam que ela era louca, mas nesse mundo ninguém é normal e a mulher era o símbolo de liberdade e autenticidade... No lugar do sentimento de estranhamento quem a conhecia só queria ser como ela, livre, alegre, divertida, inteligente, alto astral, determinada. 
Se eu não fosse eu, seria com certeza ela...

*essa foto não pertence a mim caso você seja o dono ou conheça a fonte me avise para eu dar os devidos créditos.

2 comentários:

  1. eu amo a poesia que é você, é tanta que chega a transbordar e tornar esses textos maravilhosos reais, parabéns moça.
    xx

    http://www.folhasdeoutono.com/

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  2. aaaaí você me deixou sem palavras!!! Não sabe o quanto fiquei feliz com seu comentário! Muitoo obrigada de coração!!!!

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