terça-feira, 31 de maio de 2016

Uma carta para nunca ser enviada


Ribeirão Preto, 18 de maio de 2016

Oi,

Sabe eu sempre escrevi muitos bilhetes e cartas que eu queria ter enviado e não enviei, a grande verdade é que sou uma pessoa medrosa que pensa muito e fala pouco, que sente muito, mas demonstra pouco, que ama muito e quase nunca pronuncia"eu te amo". Teve dois bilhetes que eu escrevi e deveria ter entregue, mas não fiz. E hoje me arrependo... Dois bilhetes para duas pessoas que eu amei muito. Um deles eu cheguei a quase entregar, e esse era para ter sido para você... Eu lembro certinho do papelzinho na minha mão e dos seus olhos me olhando, mas eu amassei discretamente antes que pudesse ver e coloquei no bolsa da calça. E três anos depois aqui estou eu escrevendo uma carta para você. E essa não é a primeira, eu tenho uma no meu diário, mas nunca tive coragem de te entregar, faltou coragem, faltou oportunidade. A segunda grande verdade é que escrevi tendo a certeza que nunca ia te entregar. Minha vida virou de ponta cabeça e hoje fico pensando o quanto seria engraçado ter te entregue tanto o bilhete quanto a carta. As vezes as coisas seriam diferentes hoje, provável que me entendesse melhor se soubesse dos meus sentimentos... Mas tudo bem, ficou no passado, um passado que eu acredito que foi bem resolvido. 
Todos meus amigos me falam que eu deveria dizer o que eu sinto para as pessoas que eu gosto, mas eu tenho uma besta mania de dizer isso só quando eu não gosto mais, com você foi assim... Na verdade não foi, porque diferente de tantas outras histórias mesmo depois de ter te superado, não tive a oportunidade de te dizer o quanto foi importante para mim, talvez essa carta seja para isso e acho que essa foi a primeira vez que assumi isso para mim mesma. Você foi importante para mim.  Me fez superar um par de all star, sorrir, entrar em parafuso, sentir ciúmes, chorar menos, lidar melhor com a perda, preencheu um vazio que estava lá me matando. Aprendi não prestar atenção nas aulas chatas, a sustentar um olhar e fingir que estudava matemática na biblioteca só para não precisar olhar para seus olhos. 
E engraçado que por mais que eu ache que você me deixou, dessa vez foi ao contrário, eu não te perdi, você que me perdeu. Cumpriu com nossa promessa silenciosa, diferente do outro não me abandonou, foi eu...Eu que fui embora, não me despedi, escolhi não fazer nada, não lutei, escolhi te esquecer... Talvez porque me senti culpada, eu não tinha superado minhas perdas e meus fantasmas, senti medo de você me deixar também, preferi te deixar primeiro, acho que não suportaria perder outra pessoa. Ou foi simplesmente porque como você pensava, eu deveria viver a faculdade e você o cursinho. Lembro do seu argumento de que não poderia me acompanhar, não queria me privar... Caraaamba como foi bobo, eu preferia mil vezes que ficássemos juntos do que frequentar mil festas de faculdade (das quais nunca frequentei), mas poxa, conseguiu me convencer e eu não quis te provar do contrário. Escolhi não argumentar, e essa escolha as vezes me persegue, porque queria ter te falado o quanto era importante para mim, que sofri em te deixar, eu queria ter argumentado. Queria saber se sofreu como eu, nunca soube, nunca permiti depois que falassem de você para mim.
Mas a vida passa e as palavras passam junto! E eu não falei o que precisava, você não falou o que precisava e nossas vidas seguiram para lugares diferentes, para pessoas diferentes, para universos distantes. E eu só queria te ver de novo, e eu só queria parar de te ver em outras pessoas, eu só queria conseguir te entregar essa carta que nunca vai ser entregue, ou um bilhete escrito "você foi importante para mim". A terceira grande verdade é que sinto saudade do que poderia ter sido, mas não foi. 
E eu nunca vou te enviar essa carta, assim como não enviei nem o bilhete nem a outra carta e sabe por que? Porque tenho medo do que poderia achar de tudo isso, de ter esquecido de mim e mais que isso tenho medo de a frase "você foi importante para mim" virar "você é importante para mim".
Seja feliz! Eu sempre quis e continuo querendo que seja, talvez esse que é o sentido dessa carta, dizer que eu me importo com você, me importo sim e torço para que esteja bem! Ainda mais agora que começou uma nova fase da sua vida, ainda mais agora que não tem um cursinho te impedindo de viver o que quiser, liberdade sempre foi uma coisa importante para mim e sei por algum motivo que para você também, afinal será um eterno sagitariano... Tenho certeza que nossas vidas seguiram rumos opostos e que somos felizes a nossas maneiras, a grande quarta verdade é que quero te encontrar no futuro e sorrir e a única mentira é que um dia vou te entregar essa carta e todas as outras que um dia escrevi para você. Porque não vou, e todo mundo que me conhece sabe o porque, afinal sou a pessoa mais orgulhosa desse mundo e desconfio que você também. 

Com amor, eu.

* Essa carta faz parte do "Desafio 12 cartas para 12 meses" que estou participando, um convite da linda da Paulinha do blog Utopia Concreta, no qual explica o projeto nesse post aqui. Essa é a terceira carta que escrevo e consiste em escrever uma carta para nunca ser enviada.

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