quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Amar verbo transitivo direto?


Ele insiste em me ensinar gramática mesmo tendo explicado milhões de vezes que precisava de um professor de matemática. Com o seu cinismo diz que não é professor, não terminou a faculdade, está no segundo ano de Letras e ainda é um estagiário... Para mim dava na mesma, precisava urgentemente aprender matrizes, determinantes e sistemas lineares e ele tentando ensinar-me verbo transitivo e intransitivo.
Quem diria que eu fingiria precisar daquela ajuda ou pior me apaixonaria por um leitor de Shakespeare e de Carlos Drummond de Andrade, seria um pesadelo?
Foram-me ensinadas mil regras gramaticais: Pronome oblíquo, crase e nova ortografia, mas só consegui absolver seus olhos verdes, e com certeza aprendi sobre todas as linhas do seu rosto, o seu jeito determinado e como roía as unhas quando estava nervoso...
E mesmo assim aquele cara me explicava: Amor- substantivo abstrato, amar- verbo transitivo direto. E depois de achar que tinha aprendido, confundi-me toda, afinal não tinha um livro do Mário de Andrade chamado “Amar verbo intransitivo”? Ou seria um poema de Drummond? Já não me lembro, mas que existia não tenho dúvidas! Não importa... Ou talvez importe... Por que Mário Andrade diria que amor é intransitivo, sendo que para gramática ele é transitivo direto? Amor é algo muito complexo para se seguir regras, mais difícil ainda é classificá-lo...
Uma coisa é certa qualquer poeta conhece o amor melhor do que um professor de gramática, principalmente melhor do que o estagiário que está do meu lado, este se fosse esperto teria parado de me enrolar, me convidado para tomar um café ou para comer uma torta de limão com chantilly, mas enquanto não faz isso, finjo que preciso de reforço de português e ele finge que não sou boa o suficiente para escrever. E no lugar de estudarmos passamos horas, lendo juntos, Pablo Neruda... Assino a lista de presença no final das aulas e ele faz os meus deveres de casa que tenho que entregar na secretária. Só espero que não desconfiem que a minha letra não é tão feia quanto à dele!

(Esse mini texto pertence ao meu baú de textos abandonados escrito num tempo distante em que estava nos primeiros anos do ensino médio haha)

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