segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Tudo bem

Levantei da cama antes dele, peguei meu shorts jeans que ficou esquecido jogado em cima da minha cadeira em frente a escrivaninha e aproveitei para pegar uma camiseta limpa, abri a gaveta mas minhas roupas estavam todas sujas e acabei pegando uma blusa cinza dele que eu gostava tanto e que ficava quase que como um vestido em mim. Entrei em baixo do chuveiro, deixei a água fria cair por todo o meu corpo, minha cabeça latejava. Só conseguia pensar em que diabos que tinhma feito com que eu fizesse tudo aquilo. Não que eu estava arrependida, eu só estava pensando o quanto tinha bebido na noite passada para conseguir começar o ano daquele jeito. Me enxuguei, fiquei um bom tempo dentro do box tomando coragem para sair dali. Trocada e limpa fui para o quarto, sempre soube que ele tinha o sono pesado, mas me surpreendi por ainda não ter acordado, eu dormi mal toda espremida na minha cama pequena e me surpreendi com ele dormindo tão bem e profundamente, me senti feliz por isso. Sentei no chão perto da cama e fiquei olhando-o  dormir, passaram 2 horas, meus cabelos já tinham se secado quase que completamente, estava lendo um dos livros que ele tinha me trazido na noite passada, desde que nos conhecemos a longos anos atrás sempre trocávamos livros, costumávamos conversar sobre poesia, e no natal me deu um buque de flores e um livro do Mário Quintana, não bastando isso ontem declamou para mim minha poesia preferida "Canção de Garoa" tentei me lembrar quando foi que eu havia contado que era a minha preferida. Ele sonolento me deu bom dia, eu dei risada e respondi com um "bom dia, flor do dia", jogou o travesseiro na minha cara, dei um sorriso e me lembrei mais uma vez que o seu irmão sempre comentava que ele acordava de mau humor. Nós dois sabíamos que estávamos de ressaca, me perguntei se ele tinha controle de tudo, e já tinha planejado como a noite passada terminaria ou se tinha ficado tão surpreso com o que acontecera como eu havia ficado. "Ei, você está com a minha camisa, que eu ia pedir de volta para colocar agora" eu ri internamente, ele mal sabia mas desde que peguei essa camisa meses atrás, não tinha intenção nenhuma de devolvê-la, respondi rindo "Acho que você vai ter que ficar com sua camisa suja e amarrotada de ontem a noite mesmo, se quiser posso te emprestar o ferro de passar roupa", levantou pegou a camisa amarrotada resmungou algo sobre passar roupa ser perda de tempo e foi direto para o banheiro. Voltei para cama, deitei de lado como sempre dormia e senti que minha cama já não tinha totalmente meu cheiro. Sorri feliz, mas cometei o grande erro de olhar para o meu mural de fotos na parede e me deparar com uma foto que eu não deveria ter visto, comecei a chorar descontroladamente, uma mistura de ódio, com culpa e dor me dominaram. Ele deve ter ouvido meus soluços do banheiro porque veio ao meu encontro, me dando um abraço apertado, fiquei me perguntando se não estava curioso para saber o porque eu estava assim, mas quando olhei para ele, seus olhos estavam fixos na mesma fotografia que eu tinha olhado minutos antes, e assim como eu, vi que sentia dor e tristeza no seu olhar. A sombra pairava sobre nós. Pedi desculpas, ele me pediu desculpas em seguida e percebemos que nenhum de nós deveria pedir desculpas. Ficamos em silêncio por um tempo e nossa conversa silenciosa me fez perceber que não deveríamos deixar que os fantasmas nos perseguissem. Levantei devagar fui até o mural e tirei a foto de lá, ele me olhou com um olhar de dúvida, eu disse que ia ficar tudo bem, senti um abraço apertado e choramos juntos. Estávamos acostumados a chorar, foi assim nos últimos 5 anos, mas agora eu gostava de pensar que mais riamos do que chorávamos desde que resolvemos ser um casal. "Seu cabelo está com um cheiro muito bom" respondendo eu comentei que tinha mudado de shampoo, enquanto as lágrimas de ambos secavam trocamos um beijo, comecei a lembrar da noite passada, na verdade comecei a lembrar desse primeiro mês que passamos juntos e me senti tão feliz, estava tão contente, contente como a muito tempo não me sentia. Abracei ele mais forte, ele me olhou nos olhos e falou "Eu te amo", fiquei surpresa, era a primeira vez que falava isso para mim, sorri e no meio do sorriso saiu um tímido "Eu também". Por um instante soube que ia ficar tudo bem e senti que um anjo sorria para gente .

* Escrito em 03 de janeiro de 2017

domingo, 25 de junho de 2017

A minha montanha russa


Sabe eu resolvi voltar... Podia ter postado algo que já anda pronto, mas preferi vir aqui e escrever algo aleatório mesmo... Minha vida tá tão corrida, mas eu não posso reclamar porque eu estou fazendo tantas coisas maravilhosas e eu ando tão feliz... Feliz entre aspas, porque têm semanas que são bem difíceis, porém acho que elas são consequência de estar sempre me desafiando, quem se desafia se depara com problemas e com cansaço (Assim espero)...
Semana passada eu tirei um tempo para mim, aproveitei o feriado e fui para São Paulo, engraçado isso, porque quem me acompanha sabe que eu tenho uma relação conflituosa com Sampa, pois bem, contrariando todas as minhas expectativas a cidade cosmopolita me fez bem. Eu me desprendi de tudo e de todos como a muito tempo não fazia, me senti leve. Difícil foi voltar para a realidade na segunda-feira. Aí sim o pesadelo me dominou, eu tenho esse sério problema, sofro absurdamente todo período em que volto para realidade, é assim todo começo de semestre pós férias e todo começo de aula pós feriado prolongado, isso me faz pensar que talvez eu não esteja na graduação certa, ou que talvez existisse algum lugar que eu não sei qual que estaria me fazendo mais feliz. 
Voltando segunda-feira, terça-feira e quarta foram dias horríveis, dias que eu queria fingir que não existia, que eu queria dormir e esquecer de tudo e de todos (mil trabalhos acumulados, provas e problemas para resolver), porém quinta-feira me senti em uma montanha russa, digo isso porque de uma tristeza profunda passei para uma alegria inexplicável.
Quinta eu tive atividades de todos os projetos importantes que eu participo, desde o projeto com crianças, o projeto com mulheres até a noite que eu dei aula. E essa quinta confusa e atolada de coisas boas me mostrou o quanto eu participo de projetos especiais, o quanto indiretamente eu mudo a vida de muitas pessoas e essas pessoas mudam completamente a minha também, e daí pensei que todo esse cansaço, as milhares de vezes que me sinto sobrecarregada, que eu não tenho tempo para nada valem a pena, porque eu deixo pessoas mais felizes e elas também me deixam.
Tem semanas que eu fico triste por não conseguir jantar com meus pais, por não conseguir dormir o quanto eu preciso, por tentar a mais de um mês marcar para cortar meu cabelo, mas não encontrar horário, de não poder ler meus livros de cabeceira, de não poder escrever e atualizar aqui, de meu quarto estar a maior bagunça e eu não ter tempo de arrumá-lo, de sair todos os dias as 7 horas da manhã e voltar só as 21, 22 horas para tomar banho, jantar, ler textos da faculdade e dormir. 
É sofrível? É, as vezes eu penso em desistir? Várias vezes, mas daí me lembro que estou aprendendo a ser uma pessoa melhor, que eu estou aprendendo a repartir, a liderar, a administrar, a ajudar pessoas que precisam e a mobilizar outras pessoas que podem ajudar aquelas que precisam, estou aprendendo a amar e a ensinar. E como presente eu recebo feedbacks maravilhosos do tipo recadinhos que eu sou uma boa professora ou que querem me colocar num potinho e levar para casa (Mano eu chorei de emoção com esses bilhetinhos dos meus alunos quinta-feira). Como eu posso parar de fazer as coisas que eu mais amo na vida? Como eu posso escolher um projeto para abandonar? Não tem como, eu amo todos igual e são eles que me fazem esquecer da graduação que muitas vezes é puro sofrimento, ela sim era o que deveria escolher largar... E talvez seja por isso que eu não escrevo mais aqui, que eu deixei de tomar café da manhã (eu sei isso é péssimo) ou que nos finais de semana eu hiberno de tanto cansaço. Tento pensar que essa fase não vai voltar e se eu não aproveitar agora, quando vou poder aproveitar? Então pessoas que me amam e que eu amo, tentam ter paciência comigo, por favor! Serão só mais 6 meses, 2018 já está chegando e com ele vem a calmaria, prometo!

domingo, 26 de março de 2017

Nós

Nós. Nós somos enrolados. Nós são enrolados... Eu sou um nó, nós somos dois nós... Silêncio. Silêncio. Cidade grande. Existe silêncio na cidade grande? Barulho, sirenes, buzinas, gritos! Mas um infinito silêncio entre nós... Eu sou muda, você é mudo... Entramos no metrô... Linha amarela? Linha verde? E continuamos nos olhando como dois desconhecidos. Por alguns minutos me esqueço que esse nós existe há mais de 6 anos. Quando foi que viramos um nó? Que nos tornamos um só que existe num grande vácuo?
O vácuo da cidade grande. O vácuo das pessoas correndo apressadas, do medo de ficar sozinhos, de desatar os nós. Esses que ao serem desatados criariam um rebuliço em nossas vidas e nós deixaríamos de existir... Vamos, vamos, o metrô chegou na estação.

domingo, 5 de março de 2017

Geleia no verão


Ela ficou na cama o dia inteiro, ouvindo a chuvinha de verão bater na sua janela, assistiu alguns filmes enrolada nas cobertas, depois leu algumas páginas do seu livro de cabeceira. Levantou e já passava das quatro da tarde, se olhou no espelho para praguejar sobre uma espinha no queixo. Estava radiante, todos diziam que aqueles meses a fizeram bem, seus cabelos estavam pretos, suas pernas longas estavam definidas e havia tomado sol de verão. O que ninguém sabia era que estava despedaçada por dentro. 
Pensou em vestir um shorts, desistiu, ficou só de calcinha e com uma camiseta que quase ia aos joelhos. Fez um coque no alto da cabeça, foi para o banheiro lavou o rosto, escovou os dentes e encarou de novo a espinha, mentalmente agradeceu por não ter que sair de casa e nem precisar passar corretivo (Padrões fúteis de beleza). Colocou os óculos de armação pretos, sua miopia beirava os 5 graus, se sentiu triste por não enxergar como todo mundo. 
Saiu andando descalça em passos lentos para a cozinha, fez pão na frigideira e chá mate. Tentou sem sucesso abrir o pote de geleia de framboesa, não conseguiu... Se sentiu fraca... Ficou com vontade de chorar, não tinha ninguém em casa para abrir para ela, estava sozinha... De repente teve uma súbita crise de riso, era tão idiota sentir vontade de chorar por não conseguir abrir um pote de geleia, ela se sentiu boba. Maldita TPM. 
Comeu em silêncio. Cansou do silêncio. Resolveu colocar música. Silva começou a tocar. "Eu sempre quis dizer" invadiu a cozinha. Ela gostava dessa música, lembrava do dia que um alguém tinha cantado para ela em seus ouvidos, foi em 2015, 4 dias depois do seu aniversário. Eles eram amigos e na época ela muito burra não entendeu nada (Lerda). Deu um sorriso pequeno e agradeceu por ele ter esperado pacientemente por um ano para que ela entendesse o que aquilo significava. 
Talvez se ela ligasse para ele agora, certamente ele poderia vir abrir o pote de geleia para ela, mas achou melhor aprender a abri-lo sozinha. Respirou fundo, comeu o pão torrado com manteiga mesmo e mandou uma mensagem por whatsapp dizendo: "Querer não é amar, mas é sempre um bom começo..." Ele pareceu chocado e respondeu: "Eu quis tanto ter você, quando você não me quis, e agora a gente é feliz e ponto". Ela acha que Silva virou trilha sonora oficial da história dos dois... Não sabe se ri ou se chora. Ela coloca a culpa na TPM e não no coração partido.  

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Recomeçar, oh palavrinha difícil.

Recomeçar, oh palavrinha difícil. Essa semana eu perdi uma pasta de fotos e não foi qualquer pasta foi a pasta de hospedagem de imagens do blog que ficava salva no google fotos/ google drive/ picasa. Até agora eu não sei bem o que aconteceu e desencanei de tentar entender. Só sei que foi impossível recuperá-las e que TODAS as fotos do blog desde 2012 SUMIRAM, inclusive os layouts antigos que ficavam salvos nessa pasta também. 
Com essa perca pensei em desistir do blog, a princípio achei que era o destino me mandando uma mensagem, porque esse ano comecei a estagiar na faculdade e já vinha há um tempo pensando em desativar o blog por causa disso, mas não tinha coragem (infelizmente minha profissão exige um certo distanciamento e privacidade). Não é atoa que andei fazendo algumas alterações no meu perfil por exemplo... 
Pois bem como podem ver eu não desisti, estou aqui. Quando percebi que tinha perdido todas as fotos de imediato não fiz nada, pensei em chorar, mas sabia que nada iria adiantar, respirei fundo e segui em frente, porém dois dias depois ao abrir o blog descobri que todas as fotos tinham desaparecido e fiquei paralisada ao ver ele todo branco. Foi aí que a ficha caiu, senti dor, desidratei de tanto chorar, me permiti fazer drama mesmo sabendo que não ia adiantar nada! Foram 5 anos de história apagados e quem me conhece sabe que sou uma pessoa extremamente apegada a lembranças. Resolvi desistir, mas depois ponderando essa decisão percebi o quanto esse espaço é/foi importante para mim, queira ou não ele é parte da minha vida e perder as fotos me fez perceber isso. 
Não vou parar, ainda não sei direito o que vou fazer, devagar estou tentando voltar as fotos no lugar (é um trabalho exaustivo procurar e colocar foto por foto) além disso quando chegar em meados de 2014 eu provavelmente não vou ter mais backups das imagens, estou me esforçando para resgatar o máximo possível.
Com esse episódio aprendi algumas lições, inclusive percebi uma coisa importante, não tem porque esconder parte de mim e tampouco desistir e excluir tudo isso por causa dos meus estágios, afinal essa sou eu, tenho meus medos, inseguranças, dúvidas e opiniões como qualquer outra pessoa (sou humana) e além disso nem sei ainda se vou seguir a psicologia como profissão, é bem provável que não, então acredito que deixar de escrever é me precipitar sem necessidade. 
Esse texto era mais um desabafo e tinha como objetivo sinalizar que o blog está cheio de imagens faltando e que se alguém entrar por aqui e vê-lo assim entenda o que aconteceu. Estou recomeçando, não está sendo fácil, mas estou tentando e até que está sendo legal. 
Acho que esse texto pode ser um pouco motivacional/ auto ajuda também, recomeçar é sempre difícil mas ao mesmo tempo muitas vezes é necessário. Doí perceber que tudo na nossa vida é volátil, que podemos perder tudo em um piscar de olhos e que não temos controle sobre nada. Porém saber perder é um grande aprendizado, pelo menos esse episódio de perda me fez me sentir na primeira série aprendendo a escrever de letra cursiva, a gente quebra a cara, mas quando vê tá escrevendo tudo de novo e bonitinho.